Casas. A procura de casas. O preço das casas. A localização das casas. O investimento em casas. Foram temas constantemente debatidos em 2017. De repente parece que a história se inverteu e o mundo descobriu Portugal. Na verdade, parece que até os portugueses descobriram Portugal, e assim começou a corrida aos investimentos no imobiliário. Uma parada de estrelas começou a desfilar por Lisboa e cruzarmo-nos com Madonna, Michael Fassbender ou Monica Belluci no café tornou-se numa possibilidade bem mais real. Mas, afinal de contas, o que nos dizem os números sobre o imobiliário em 2017?
Crédito Habitação em clara ascensão
Um reflexo imediato do aumento da venda de casas é o crescimento dos valores de Crédito Habitação concedido. Segundo o Banco de Portugal, em 2017 o montante concedido para novas operações de Crédito Habitação chegou aos 8.261 milhões de euros, o que representa um aumento de 43% face a 2016 e de 327% em relação a 2012, o ano em que os efeitos da crise se fizeram sentir de forma mais rigorosa, não se chegando aos 2.000 milhões de euros de crédito atribuído. Mas mesmo assim, ainda estamos longe dos valores praticados antes da crise, que em 2009 foram de 13.526 milhões de euros.
Há uma conjugação de fatores que contribuiu para que em 2017 se tenha chegado a estes números, o mais óbvio dos quais é o aumento da procura. Se há mais pessoas a quererem comprar casa, há também uma maior necessidade de crédito, é simples. Mas há que ter também em conta que, não conseguindo a oferta acompanhar a procura, os preços começaram a subir e os números falam por si: segundo o INE, que analisa a avaliação bancária na habitação (link para http://www.creditohabitacao.com/artigos/blogue/show/como-o-banco-avalia-a-sua-casa-1/), em 2017 o valor por metro quadrado em Portugal chegou aos 1.122€, um aumento de 5,1% face a 2016. E os valores de venda dos imóveis ainda são mais elevados. Dados do Confidencial Imobiliário apontam para que o preço por metro quadrado das casas à venda em 2017 fosse de 1.223€, chegando em Lisboa aos 1.532€. Os valores de venda praticados, que estão a subir ininterruptamente desde julho de 2016, representaram um aumento de 12,8% em 2017, o crescimento anual mais intenso desde 1992.
Segundo o Banco de Portugal, em 2017 o montante concedido para novas operações de Crédito Habitação chegou aos 8.261 milhões de euros.
Mas para além da incapacidade da oferta acompanhar a procura, há outro fator que tem contribuído para a subida de preços: o investimento estrangeiro. Com maior poder de compra, os investidores estrangeiros conseguem suportar preços que são inacessíveis à maioria dos compradores portugueses. Segundo a APEMIP, 1/5 das casas compradas em Portugal em 2017 foram adquiridas por compradores estrangeiros, destacando-se os franceses, que representam 29% desses compradores, e os brasileiros, que já chegam aos 19%, seguidos dos ingleses, chineses e angolanos. O fado “Lisboa, Não Sejas Francesa” está cada vez mais atual, só lhe faltando a referência ao Brasil para ser rigoroso.
Vender casas, um dos lemas de 2017
Perante o cenário apresentado, é natural que tenha havido também mais pessoas a quererem entrar no setor imobiliário. E também nesta área os números são impressionantes. Basta dizer que mais de metade das mediadoras imobiliárias atuais surgiram nos últimos 2 anos. Só em 2017 foram licenciadas 1.385 mediadoras, o que representa cerca de 4 novas agências imobiliárias por dia.
Mas com tanta gente a querer vender e comprar imóveis, só há um pequeno problema: não há oferta que chegue para todos, o que tem em alguns casos levado a soluções criativas, especialmente em Lisboa, onde já se encontram lojas a serem vendidas para habitação, uma vez que podem chegar a preços médios 25% a 30% inferiores aos das casas. A razão para esses valores mais em conta prende-se com o facto de se deixar ao novo proprietário o encargo de proceder ao processo burocrático e administrativo que essa transformação para habitação requer.
A maior rentabilidade da habitação no centro de Lisboa e do Porto está a levar também à reconversão de escritórios. E até há quem faça dinheiro com o imobiliário sem chegar a comprar ou vender uma casa, fazendo contratos de compra e venda e depois cedendo a sua posição a terceiros. Não é uma prática generalizada, mas é uma tendência que se tornado mais comum.
Aprender com o passado
Perante a euforia que se tem vivido no setor, o Banco de Portugal sentiu a necessidade, ainda em 2017, de impor regras mais restritivas ao Crédito Habitação, procurando defender os interesses de quem compra casa, para que os clientes tomem decisões informadas. Foi por isso introduzida a FINE, um documento que permite comparar simulações de crédito habitação, e que, em termos gerais, harmoniza a informação sobre as propostas de crédito habitação para os consumidores.
Criou-se também um período de reflexão obrigatório de 7 dias, a contar do momento em que é apresentada a proposta de crédito, só se podendo avançar com a contratação após esse período, evitando assim a tomada de decisões a quente, sem analisar bem todas as informações.
Mas mesmo assim o mercado continua em alta, e 2018 começou com aumentos de 15% e 28% do montante de novas operações de Crédito Habitação em janeiro e fevereiro, respetivamente, face ao período homólogo. Adivinha-se portanto que 2018 seja um prolongamento daquilo que já se verificou em 2017, com o Crédito Habitação em alta, o que é uma boa notícia para quem precisa de comprar casa e recorrer a financiamento.